Conto infantil - o rouxinol
CONTO INFANTIL - O ROUXINOL
Do livro da Instrução Primária de 1945
Como o malandro do cuco, que nunca se deixa ver, (e tem razão para isso, porque como ninguém gosta dele limpavam-lhe o sebo), o rouxinol também passa a vida meio escondido nas sebes densas e húmidas, normalmente de noite e afastadas das povoações.
É um prodígio ver um rouxinol ou encontrar-lhe o ninho.
Se o rouxinol faz a vida de noite, tem de dormir de dia. Daí que:
Dorme onde calha, e encontra poiso longe de tudo. Até mesmo no arame de um corrimão, onde os ramos da videira deitam as “garras” helicoidais para se agarrarem ao que as rodeia e sustenta enquanto crescem.
Pousado no arame do corrimão, solinho bom, o rouxinol deixou-se dormir. Nem deu por nada quando o gavião se enrolou em volta da pata.
Quando acordou foi o diabo: Quis voar, bateu asas, barafustou… nada.
Foi então que Nossa Senhora passou por ali. Soltou o rouxinol, ele foi à vida todo contente. Mas não se esqueceu da Salvadora.
Desde então, sempre que ouvirem por aí um rouxinol escutem bem:
Nossa Senhora, disse, disse, disse;
Que enquanto o gavião da videira subisse;
Que não dormisse, que não dormisse.
Clic, e confirme: - Um ninho na Fonte das Tortas
NOTA MUITO IMPORTANTE: A última vez que ouvi um rouxinol foi no silêncio total de uma madrugada dos meados dos anos oitenta.
O canto do rouxinol é de tal modo inconfundível e suis generis que, por todas as circunstâncias do momento, tive imediatamente a certeza absoluta que era o que eu estava a ouvir.
Ainda não encontrei nenhum som na Internet identificado como canto do rouxinol que me tenha dado a mesma certeza.
Nem o que aqui mostro como tal.
Aniceto Carvalho