SEXO NA PROVÍNCIA
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SEXO NA PROVÍNCIA
Qualquer miúdo aos quatro ou cinco anos sabe hoje, como há séculos, mais ou menos o que eu sabia com a idade dele. Vê tudo o que eu via, ouve tudo o que a mais leve aragem em redor sussurra até ele. A única diferença é que eu estou a escrevê-lo.
Não há segredos, não há quartos para crianças, não há padre em casa de manhã à noite que possa evitar isso. Não há nada a fazer, vem no ADN, tão natural como comer ou beber:
Um miúdo de cinco anos sabe muito mais de sexo do que os pais sonham que ele sabe.
Isto vale no Palácio do Mónaco, no sopé dos Andes ou na minha terra.
Posto isto:
Ao contrário do que muita gente pensa, as pessoas não fugiam da província por medo da enxada ou pelo peso do trabalho na agricultura. Nada disso. As pessoas deixavam a sua terra porque a compensação da agricultura há muitos anos tinha deixado de chegar para o que o agricultor pudesse usufruir do que achava ter direito como qualquer outro cidadão.
Com a colheita compensadora, ninguém sai da sua terra.
O trabalho na agricultura não tem nada a ver com o que se diz sem se saber do que se fala. Uma enxada e uma chave de parafusos são coisas diferentes, nós sabemos… Mas a podar um corrimão de videiras ninguém fica fechado uma semana debaixo do olhar do chefe sem ver o Sol... a semear um rego de batatas ninguém anda atrás de ninguém: Descansa-se encostado ao cabo da enxada, repousa-se, dorme-se a sesta, dá-se mais uma golada no vergas.
E numa tarde inteira sozinho, lá longe em Vale do Forno ou na Boiça, por trás dos muros, das sebes, dos corrimões da videiras, longe de tudo, pensa-se em muita coisa.
Tudo nas calmas, a seu tempo, nada de correrias.
É a natureza na sua plenitude, tudo cheira a afrodisíaco.
NOTA: Esto não é nenhuma écloga do Virgílio: Isto anda perto do real, uma das explicações porque as mulheres da província antigamente tinham muitos filhos.
Aniceto Carvalho