INCÊNDIOS E AVIÕES
INCÈNDIOS E AVIÕES
Sou da província, Beira Litoral, Região do Pinhal Interior Norte, deixei as saias da minha mãe aos doze anos. Dos dezoito aos vinte e cinco, de 1954 a 1960, percorri de Helldiver e helicóptero este país de Norte a Sul de Este a Oeste em viagens de navegação e treino muitas delas a seguir a Volta a Portugal do Algarve ao Minho.
Tenho uma memória privilegiada, na qual, aos 84 anos, não noto a menor falha.
Não tenho a menor ideia de me ter ficado na retina um palmo de qualquer inêndio florestal que me obrigasse a nunca mais me esquecer.
ACERCA DO PINHAL DO REI
(Com a devida vénia ao autor)
Foi uma ideia original de D. Afonso III e de seu filho D. Dinis, plantador de naus a haver. Estúpidos e meio boçais, nunca apresentaram um Plano de Ordenamento e Gestão Florestal. Depois deles, o filho da mãe do D. Afonso IV não mandou fazer estudos topográficos e geodésicos. D. Manuel I, desmiolado, esqueceu-se de estudar os resíduos sólidos e os recursos faunísticos, e D. João V, esse palerma, desprezou os avanços da bioclimatologia e da ecofisiologia das árvores. A maluca da D. Maria I não percebia nada de biologia vegetal e da diversidade das plantas. No fundo, era uma reaccionária.
O resultado de sete séculos de incúria está à vista: ardeu tudo.
Há-de ali nascer um novo pinhal, após rigorosos estudos académicos e científicos. Em vez do bolorento nome de Pinhal de El-Rei, irá decerto chamar-se Complexo Bio-Florestal 25 de Abril, com árvores de várias espécies para garantir a pluralidade, esplanadas e bares, passadiços, zonas culturais — e uma ciclovia asfaltada da Marinha Grande a São Pedro de Moel.
Estou certo de que o grandioso projecto assentará numa "visão pós-moderna da natureza" e no "conhecimento da dinâmica dos sistemas vivos", além da “capacidade de análise e interpretação da paisagem como meio influenciador do homem”.
Bem vistas as coisas, tivemos muita sorte.
(Postado por Aniceto Carvalho)
Aniceto Carvalho