O CONSERVACIONISTA SUECO
O CONSERVACIONISTA SUECO
Há séculos que os habitantes das proximidades da lângua do Hermenegildo no Vale de Miteda travavam uma luta aberta e contínua contra os javalis, macacos, facoqueros, afins e similares das redondezas. Estragos nas plantações, roubos de jinguba, de mandioca, destruição de milheirais, de mangas, papaias, mamões, etc.
A coisa serenava consoanente o número de macacos e javalis assados na braza ou no espeto… mas, fora disso, tudo voltava ao mesmo e a guerra era declarada.
Foi então que lá das tundras geladas do Norte desceu um subdito de sua majestade sueca que, mercê de uns favores antigos, vinha a Lisboa especializar-se na Universidade Católica em conservacionismo da natureza com estágio de mergulho sem escafandro no Meco com peritos portugueses para ir ao Planalto do Maconde resolver o velho problema.
Como em tudo o que entra o dedo do perito, assim foi:
Acabaram-se as paliçadas, as armadilhas, passou a ser mais fáil roubar na machamba que fossar na florestana, a bicharada ficou nas sete quintas, foi um regabobe. Nunca mais se viu por ali uma cabeça de macaco assada na braza, um pernil de javali a rolar no espeto, a população da Lângua do Hermenegildo começou a definhar…
Foi então que, de repente, soam dois bruscos estampidos na noite tenebrosa de Cabo Delgado, dois clarões incendeiam as vertentes do planalto Maconde. Não havia nesga de trovoada, nunca mais ninguém voltou a ver o conservacionista sueco. FICOU O MISTÉRIO.
Aniceto Carvalho