O treino do marine
O TREINO DO MARINE
Eu acho que o Carlos, o meu filho, sempre teve mais brinquedos do que aqueles que pedia.
Penso que nem ele era muito exigente, nem eu era unhas de fome. Sempre teve o que queria, tudo bem. Mas houve duas situaações de conflito. Uma com os Toys, uns carrinhos pequeninos em alumínio forjado em moda em Nampula no princípio de 1967. O Carlos queria todos.
Resisti, cedi, resisti, cediâ... Por fim ainda anda por aí um saco cheio deles.
A outra foi em Tete, ele com dez anos. Queria uma bateria. Aí parou!
Ele acabou por compreender que para acabarmos atirados aos crocodilos no Zambeze não era preciso mais nada que uma bateria a martelar aos ouvidos de todo o bairro. O Carlos acabou por desistir da bateria, leu o "Grito de Batalha", um calhamaço de 800 páginas.
Mobilizou a seguir o filho do vizinho do lado, um miúdo de seis anos, pôs-lhe às costas uma velha mochila cheia de pedras, dias depois de treino e marchas forçadas de manhã à noite o pobre do Pedro era um marine americano da Guerra do Pacífico em toda a sua grandeza.
Aniceto Carvalho