Resta-nos o Sol
RESTA-NOS O SOL
Estávamos em 1970, num curso, na Bell Helicopter. Numa das pausas, o Guia Gonçalves, que conhecia tudo da Cabora Bassa desde o primeiro traço, explicava ao nosso instrutor a grandeza da nova barragem.
(Grande, de facto… na altura uma das primeiras do mundo).
Perante tanta grandeza o texano não se conteve:
- Pues – começou ele, num espanhol intragável – con nuestro dinero.
O Guia Gonçalves era um tipo enorme, de 1,80 m, escuro, quase um maori; o texano, atarracado, normal, de 1,65, dava-lhe pelo ombro.
O Gonçalves saltou de trás da bancada como uma mola:
- Não senhor, mister Reep! Nós não precisamos do dinheiro de ninguém!
“Quem fala assim não é gago” – pensei eu na altura.
Passaram-se 48 anos.
De repente, sei lá porquê, acabei de me lembrar do Herman José a repetir ao Helton Jonh que também tinha um Rolls-Royce, e agora do Presidente da República de Portugal a dizer ao Presidente Americano numa visita de estado que Portugal tem o melhor jogador de futebol do mundo.
É a vida: “Resta-nos o Sol, o turismo e o servilismo de bandeja”…
Aniceto Carvalho